SE AO MENOS UM VERME ESFOMEADO ME AGRADECESSE

JOEL MARINHO

O que será de mim após a morte?

Nada, simplesmente nada, aliás, nem em vida.

O que eu sou? Ora, absolutamente nada!

O mundo sempre esteve, eu que cheguei

Me apropriei de algumas coisas como minhas,

Mas na verdade eu não tenho nada, nem a vida.

E quando eu me for talvez alguém chore

E muito raramente alguém sinta a minha falta

Principalmente após um ano que eu me for.

Meu corpo se desfazendo, virando adubo

E gerando estímulo para outras vidas.

Talvez seja aí que serei mais produtivo

E quem sabe menos destrutivo.

Fico imaginando a minha morte

Há quem chore por amor a mim?

Há quem finja um choro pra dizer que me amava?

Há quem reze ou faça oração?

Se bem que para mim isso não mais importa!

Já estarei morto mesmo.

Ficarei em algumas memórias?

Alguém guardará a minha História?

Se ao menos um verme esfomeado

Depois de me ter ingerido

Solte um arroto fedido

E diga, muito obrigado!

Já terei aí ganhado

Um ar de felicidade

Que pelos dias vividos

E pelos dias “morridos”

Não passei despercebido.

JOEL MARINHO