Alma que grita

Há palavras não ditas...escondidas nas entrelinhas de minh'alma

Há infinitas fendas por entre meus passos, guardados, silenciados em meus arremedos, que abrem caminho, por entre os dedos, escorrendo intensidades.

Algumas palavras não precisam ser ditas, existem almas que carregam uma força infinita...

Basta-me sentir por entre as linhas

Basta sentir o corpo arrepiar

Basta-me sentir a vida pulsar

O sangue em minhas veias fluir

O peito se abrir quando a alma gritar.

Tenho mesmo essa alma afrontosa

Uma benção, ou uma maldição

É da sua natureza reagir, ainda que por sob o véu curtido da pele, por entre as marcas de tantos conflitos, esta alma submerge.

Minhas emoções são urgentes, insurgentes, nas palavras não ditas,

De onde ela vem?

De que matéria bruta ela se fez?

Vem essa luz que sobre as nebulosas

Cai de incógnitas criptas misteriosas

Como as estalactites duma gruta...

Vem da labuta diária e alta luta...

Do emaranhado de moléculas nervosas,

Que a fazem queimar, contorcer

Que, desintegra-me nas trevas da noites, refaz-me em todo alvorecer

Delibera, e depois, quer e executa...

Contraindo-se no cerne das minhas entranhas, fere-me, sufoca-me e arranha.

Esta anarquista e pervertida,

Alma de transparências

Não sabe ocultar-se, não adere a camuflagens

Ainda que as palavras soem

tísicas, tênues, mínimas, raquíticas...

Esta alma intrépida quebra a força centrípeta que a amarra, que silencia

E de repente, e quase morta, esbarra...alardeando

no mulambo das palavras paralíticas.

Maria Mística, Heterônimo de

Andreia O. Marques