O amargo gosto do nada
O café na mesa desperta em mim uma curiosa atenção aos detalhes em seu aroma: a qualidade do café se transforma com o passar do tempo, e naturalmente seu odor envelhecido e enjoativo se impregna no ambiente. O café envelhece em poucos minutos, enquanto esfria e me frustra, fazendo-me refletir sobre sua qualidade e o processo que o trouxe até aqui, apenas para ser negligenciado por mim nesta mesa de trabalho. Enquanto ele esfria, recordo-me do sabor terrível de café acompanhado pelo trago de um cigarro barato, que deixa sua marca em todos os cantos, e penso no gosto de um gole de café após uma taça generosa de vinho. Talvez o sabor do café passe despercebido todos os dias da minha vida. Um gole de café após a intimidade talvez me relembre o prazer do seu aroma. O café se tornou uma necessidade inconsciente que não tem sabor de nada.