Num canto da sala
Eu queria falar de amor, mas não sei nada sobre ele. Nem entendo o que ele faz. Então prefiro ficar num canto da sala, olhando de esguelha pela janela, uns pedaços de poesia que se enrolam no vento que passa.
Dos jardins da vida, gosto de vestir folhas caídas de meus outonos, só porque carrego primaveras que floriram minhas emoções, mas que ficaram invernadas nos verões dos desertos de mim.
Na mesa, um livro aberto, desnudo em palavras. No silêncio, uns ecos de sonhos espatifados nas saudades. Lá em cima as nuvens se divertem, como que num quebra cabeça experimentando novas formas a todo instante.
Aqui, a casa vazia ouve os quadros em suas molduras e conto ao tempo as horas que se penduram no limiar de meus olhos, a cada olhada repentina que dou para o relógio de parede na sua condenada solidão.
O vento segue com as poesias rabiscadas em seus perfumes e anarquias com toques de invisibilidade.O amor certamente espreita tudo por todos os lados. Mas não sei nada sobre ele. Só sei que das estradas e dos lugares mais bonitos gosto de morar somente nos olhos e nas ternuras do corpo dela.