Algo em mim
Algo em mim atrapalha-me, como que uma prosa mal construída, como que um sonho inacabado, indigesto, fúnebre, cinza; Algo em mim não cabe-me e nem nisto e em nada; Algo em mim permanece na ânsia do ir, sem fim e contíguo ao infinito, sempre tendendo, mas nunca posto como aquilo, ou isso; Algo em mim me tensiona entre ser e nada, desacreditando de tudo, fazendo acreditar-me em nada; Algo em mim é o indizível, aquela nota insuficiente, uma nota desajustada/finada; Algo em mim não basta-me neste algo que desejo, ambiciono; Algo em mim é da dimensão do ser, aquilo que é e continuará a ser em toda a minha existência, como que um destino trágico, uma perda de tudo; De si, nada. Algo em mim é uma condenação, uma autocondenação, sem a mim ser, sem que eu me identifique, sem identificar-me; Algo em mim obriga-me como que um revólver apontando para o nada em uma ameaça de disparo sem som, morte e referenciais; Algo em mim me condena, sem que esse algo diga-se, ou seja outrem; Outro, também nada; Algo em mim... Eu? ...