Não calem os sinos!

Um processo contra um padre,

Uma guerra de narrativas,

Parece um verdadeiro Fla-Flu

Com gol anulado injustamente.

E eis que o padre ameaça

Deixar a cidade.

Dois exércitos se formam.

Seriam novas cruzadas?

Mas que culpa tem os sinos?

Ali foram postos para chamar o povo.

Vivemos um mundo de surdos

Que nem os sinos mais podem mostrar sua arte sônica.

Há muito tempo que eles foram calados

E juntos deles também as pessoas foram silenciadas.

Vive-se numa barulheira,

Silenciosa.

Que paradoxo!

O pipocar de fuzis e metralhadoras

Garantem o som das madrugadas

E também dos dias claros.

Quanta diferença do som sinal.

Mas os sinos não podem soar.

O ronco das motos

Com cano de descarga aberto

Em alta velocidade

Estremecem a cidade.

Os fogos afugentam os pets

Que se escondem debaixo das mesas das casas.

E os sinos emudeceram para sempre.

Como era lindo ouvir os três sinos daquela capelinha do interior

Tocados em forma de arte harmônica,

Com cada toque de acordo com o acontecimento.

Os três sinos, em movimento acorde,

Celebravam os chamados para a oração e a festa.

Mas um toque apenas,

Geralmente do mais grave

Era sinal que alguma pessoa

Caiu em silêncio profundo

E seria enterrada no dia seguinte.

Os sinos chamavam para a festa

E para a morte.

Mas agora foram silenciados.

Acho que nosso mundo perdeu o rumo do encanto

Só lamento e tristeza.

Não dá para calar a alegria,

Não dá para silenciar a convocação para a paz.

A guerra na cidade instituída

É que precisa ser silenciada,

Para ouvirmos apenas o som da paz.

 

Edebrande Cavalieri
Enviado por Edebrande Cavalieri em 18/11/2021
Código do texto: T7388740
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