Um clássico encadernado
Quase que tangíveis são as solidões, quando os entardeceres ruminam saudades e a noite despenca das alturas, espalhando silenciosamente cacos de escuro no chão do quarto.
O silêncio é cúmplice dos monólogos da alma. E as coisas se tocam na harmonia de suas existências, quase sempre tão dependentes umas das outras.
A tristeza é um clássico encadernado com esmero pelas ilusões. No prefácio sempre se diverte com a felicidade sentida. No epílogo deixa reticências e dissabores.
Pelas frestas da janela, na invisibilidade das brisas, escorregam perfumes enchendo os frascos vazios das emoções. E o olfato se gaba da sua eficiência e lembrança, mas se queixa da sua falta de tato.
Belíssima é a luz do abajur, que a circunda dando-lhe tons esverdeados, que respingam na parede e no criado mudo, como que num abraço de ternura e ao mesmo tempo de lonjuras.
Boêmias, ficam as palavras quando a noite inteira vira poesia sem versos e os pensares se jogam no travesseiro insone, deixando no íntimo, friagens que passeiam pelas esquinas dobradas de madrugadas esquecidas.