De repente!
Como que, de repente, percebo que amadureço. Dias e noites me trazem mais passiva, de alguma maneira, tenho me sentido menos insubordinada, mais escorreita, menos adiantada na aventura dramática do viver.
Tenho deixado escorrer muitas oportunidades para estar num enfrentamento caloroso de ideias. Aqueles em que pagava para entrar, não desistia sair enquanto não exauria os sugestionamentos e os argumentos. Atendia a potência interior, para que a ação do pensar subsistisse, e saísse vencedora.
Tinha uma paixão pelo contragosto, adorava lapitar palavras para colocá-las adequadamente na conversa, a fim de trazer a obra pronta, o ideal de uma verdade.
A arte da argumentação parece-me antiga, como que de muitas vidas. Pressinto que cultuei-a muito, sinto-a como recurso antigo.
Contudo, não sei se é a menopausa que esteja a querer me visitar, ou que encontre-me em momento de um novo ciclo anímico da faixa de idade.
Mas o agora tem vindo com o prenúncio de um novo tempo para o meu ser. Tenho-me pego no instante, num estado como que da maresia do mar.
Entro num novo tempo que encontra-se ainda no alvorecer.
Como é desafiador pensar ser nele. Estranho não, desafiador.
O que me tornei, encampou-me. Todas as janelas que em mim viviam abertas oferecendo possibilidades, foram compreendidas para o uso. Existem, valho-me delas, mas dispensáveis.
Agora, somente a casa, eu, e o que Eu sinto.
Flui em mim uma força atrativa amorosa sem medida, e o que tenho a confrontar; corpo físico, instinto e destino.
Se na infância e juventude me pari, na maturidade, nesta que percorro, terminarei de dar os frutos. Bons, e aqueles que demonstrarão os meus fracassos.
Que eu faça da reta final deste ciclo, labor e comida, para quando for o tempo da colheita de minh´alma, possa estar a sentir satisfeita.