Assassinatos
Quantos assassinatos cometemos
durante a vida?
É verdade que nem sempre precisamos sujar as
mãos para cometer tais delitos.
Diariamente, matamos a nossa sede e também
a fome: crimes justificáveis, perdoáveis e necessários.
Quando surge a oportunidade, matamos a vontade de realizar
algo que tanto desejamos, mesmo que isso custe um alto preço.
Os menos letrados, quando se encontram tomados pelo tédio e
desprovidos da atual tecnologia, tendem a matar o tempo com
aquele livro empoeirado que, para eles, não passa de um
objeto desimportante.
Por determinação ou por conta do acaso, matamos
a saudade daquela pessoa que andava distante; em consequência
disso, vivemos mais e melhor.
Porém, com o passar do tempo, os crimes se tornam mais hediondos.
Às vezes, mesmo contra a nossa vontade, somos obrigados
a assassinar o mais lindo sentimento que guardamos
no coração. Nesse caso, uma parte de nós também acaba falecendo.
E com o passar dos anos, matamos e enterramos
o que temos de mais valioso: os sonhos e a fé.
Seguindo um velho clichê, poupamos a vida da esperança,
mas ela acaba morrendo por si só, mesmo que por último.
Diante de tantas mortes, cabe a nós a árdua tarefa
de carregar o mais pesado dos fardos: o nosso corpo
em constante decomposição.