OSSOS DA ESPERANÇA

O que antes eram somente restos

Amontoados de coisas, decompondo-se

Ditas e de fato, consideradas sem valor

Lotam pratos, atiçam olhos,

Preenchem mesas, enfileiram cadeiras

Dignificam, socializam, podam escolhas

Não dão margem a outras...

Alimentando bocas cobertas,

Calando choros abafados!

O que eram apenas restolhos moídos

Viraram comidas, cardápios, "menus"

Abençoada canja, de sobras sólidas

Que agora enchem cântaros,

Como, se manjares dos deuses

Exalando bons odores, em corredores

Sustentando a dignidade, nas simplicidades

Almas eleitas de desalentos, vazias

Vidas, cem por cento, cheias de nada!

Aquilo que automaticamente descartávamos

Chamando-as de restos pobres,

Pedaços que prescindiam-se nas casas,

Coisas releis, que ninguém queria

Hoje forçadamente, são iguarias,

Postas em panelas ferventes

Dispostas como se banquetes fossem (e são...)

Pra muitos, o único provento ao sustento

Retalhos, que ferrenhamente são disputados!

Tudo que se depositavam em lixões

Atirados a esmo, em qualquer lugar

Avolumando entulhos tantos, tão somente

Que magoavam e machucavam nossos dentes,

Ocupando espaços nobres em nossas geladeiras

Atualmente são disputados, vendidos, comprados

Suprindo necessidades de quem sequer pensava...

Salvando indigentes e dando energias revigorantes

Alinhando sobejas dignidades

Dos sábios e dos ignorantes!

O que dantes adormeciam fétidos

Dormindo em céu descoberto

Satirizando conversas populares,

Afastados de quase todos os lares

Agora indulgenciavam famintos,

Movimentam economias, geram filas

Aproximam famílias, anseios, dó!

O que antigamente, nem eram considerados

Que não tinham espaços em prateleiras

Estantes de mercados superlotados

Destes, que vagam corredores

Ou fazem desfilar gentes,

Hoje, carentes de tudo

Mas, vazios de vida, de sonhos

Principalmente de esperanças!

Com a grata surpresa da nobre visita e imensa honra, redijo aqui a interação do grande poeta e escritor,

Ahnraffael:

Enquanto a morte , morde ,

é grande a festa ...

a vida cessou ,

nessa estranha floresta !

esse espelho da dor ,

não reflete o amor ...

no triste altar ,

a alegria , sem sua folia

chorou de dor , sofria !

o veneno é amargo ,

percorre as artérias

penetra profundo !

juntemos os corpos ,

façamos a ceia

pisemos os ossos

dos nossos idosos !

não há esperança ,

o fogo já arde

comamos a carne ,

bebamos o sangue

das nossas crianças !

o vermelho da vida ,

em tantas feridas

tem o cheiro da morte !

ó Deus dessa guerra !

como é triste essa dança ,

tão podre a matéria !

todo rosto sem cor ,

testemunhas da dor

vidas sem esperança !

já não nasce uma flor ,

no jardim da matança !!''

SERRA GERAL
Enviado por SERRA GERAL em 06/11/2021
Reeditado em 06/11/2021
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