Meu Coração
Coração! Por ti tenho me revirado. Me fazendo como o cão de caça, a procurar o que o emocional produz, para ajeitar as coisas mal arrumadas dentro.
Ó, coração! por ti me pego pela mão, tiro as farpas, faço curativo nas machucaduras.
Tenho o sentido maduro a conviver comigo. Por certo, a envelhescência, que está a alguns amanhãs adiante, tem me enviado sinal, a aprender a driblar a mágoa, limpar o para-brisa da visão com poucas lágrimas, olhando para o horizonte com o mínimo de expectativas, disposta a enxergar somente o bonito, trabalhando na arte de ressignificar a ótica.
Perder, nem sempre tem sido derrota. Ganhar, muitas vezes, para garantir tão somente o conveniente.
Coração! Comecei desconfiar que tem ligação com a Minh ‘alma, tenho gostado dos instantes do aconchego, onde posso permitir-lhe a banhar-se na Fonte Imorredoura, me enviando alimento sutil, que dinheiro não compra .
Quando na penumbra estou, naquele estar onde a solidão a todos se revela, tem me acarinhado com sua pureza, confirmando no meu ser a certeza do infinito luminoso que habito.
Coração! Tenho o sentido paciente, como que no aguardo do momento de cada hora, minuto e segundo, reverberando em mim na representação simbólica de guarda, esperando que eu faça o que tenho que fazer, e parta um dia.
Coração, não sinto que sou sua amiga, nem amante, muito menos subordinada. Somente amada.
O sinto como via entre Eu e o corpo, compreendo-o além do órgão do corpo físico, e do entendimento. Assumi a nova vida, assustadoramente contagiante, indecifrável, envolvente, indeclinável, que me absorve, me subsumi, me consome, e ao mesmo tempo, me projeta.
Ó, coração, tem me dado nutriente vital a manter meu consentimento às condições para estar viva, apesar das adversidades.
Para ti, coração, devo prestar conta um dia, se realmente assumirei a partida sem olhar para trás, aceitando o lugar de ida.
Naquele dia, somente naquele dia, farei prova a ti do meu amor e satisfação pelo que fui e fiz.