Flores

Flores para que o mundo saiba que ela não foi feita de quereres ou desejos. Estes que são ecos de um pouso primeiro. Tão necessários quanto o que se supõe melhor; eles são chão dos pés que ensaiam seu trajeto. Trajeto este que é desenhado pela sutileza de dentro, calada, segredada em seu acolhimento e faz uso desses superficiais intentos para não se fragmentar, permanecer inteira e por ela caminhar.

Flores para que se saiba dos afetos, destes que entoam canções para o ritmo dos passos, para que não se entenda que ela atende a diretrizes, mandos e comandos externos. Obedece-os sim, no tom do respeito que antes a ela disse ou direcionou, por isso, os compreende e entendendo sabe com eles lidar, mas não se subordina a qualquer jugo que lhe faça a ela mesma, desmerecer em seu florescer. Condição esta, inevitável, pois, foi dado a ela o plano de apenas ser, flor.

Flores para que se veja ali o momento primeiro, o agora renegado e o instante perdido quando mora na fala o vil coração que se entrega aos engodos de pensar que é fora a meta. Porque tudo que é fora é apenas "reflexão", afinal, "a boca fala do que está cheio o coração".

Flores porque é na cor que se embala o si mesmo, no formato circular da formação, no aroma discreto que não se revela para que a denúncia se faça leal ao reconhecimento e o despetalar-se para que se veja na morte ou na dor o renascimento por vir. Para que se saiba do movimento ou ação que não cessa, se desprende para soltar e tornar-se livre do que antes era só terra e raiz e agora é outro, novo e renascido em si, ar.

Flores para que se espelhe, pra que veja, sinta o que é só natureza, vida em expressão. Espontânea condição divina de nos revelar!

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Kátia de Souza - 22/10/2021

Kátia de Souza (psicoescritora)
Enviado por Kátia de Souza (psicoescritora) em 04/11/2021
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