NO AUGE DA VIDA
Estou vivendo o auge da minha vida
Falo o que quero, do jeito que me vem à mente
Pronuncio as palavras claramente e às vezes de qualquer jeito
Ando de vagar, não tenho pressa nem para comer
Pergunto coisas que nunca perguntei
Conto coisas que nunca contei
Digo verdades, como também balbucio mentiras
Sem acanho seguro nos braços dos outros para poder andar
Fico despida na hora do banho diante dos familiares
Não tenho tabus, não me assusto com nada
Gosto de falar só da minha infância, pois quero ser do jeito que eu era
Uso roupas fora da moda e me sinto bem
Passo batom do modo que acho melhor
Me maquia igual menina iniciante nas maquiagens
Se der tempo de ir ao banheiro bem, se não der amém
Molho os cabelos do meu jeito, se ficar empastado, não é defeito
Não fico me esforçando para lembrar das coisas
Rasto os chinelos, brigo com a bengala, às vezes largo dela
Resolvo mexer no armário, faço uma bagunça e que alguém arrume depois
Quando me dá na “pinha”corto algumas roupas com a tesoura
Mas o que mais gosto mesmo de fazer é rezar
Com o terço nas mãos oro sem parar e quando resolvo durmo ali mesmo
Adoro dormir, durmo sentada, durmo deitada, durmo meio deitada...
Amo almoçar de vagar, três quartos de hora é meio pouco
Não tenho pressa, depois é aquele sono tão rápido quanto foi o almoço
Assim eu vivo
Como, bebo, durmo e rezo
Sem contar um coquetelzinho de medicamentos que me trazem conforto
Comer, beber, rezar e dormir
Não preciso me preocupar com nada, nem saber que dia estou vivendo
Vivo o auge da vida
Vivo a vida
As crianças?
Ah, eles já são bem crescidinhos!
É isso aí!
Acácio Nunes