Saudade, saudade que mata!
Saudade, saudade que mata. Passaram muito tempo sem se verem, longos e massacrantes tempos corroendo o tempo da dor de revê-la. Quando se viram, filho e mãe se abraçaram e o filho diz: Não sei quem está se despedindo, mas a vontade era grande de estar aqui. A mãe já meio doente, mas nada muito visível, o filho abatido pelo curto tempo e com medo de ele estar se despedindo, os dois, morrem juntos, ali mesmo, lentamente fulminantemente são segurados pelo chão e um por cima do outro em um ínfimo tempo que só os dois souberam dizer a Deus, se abraçaram fracamente, um apalpando o peito do outro com os dedos se afogando e querendo encontrar força já sem vida, se aquietaram acoplando seus corpos como se voltasse ao ventre da mãe e encaixou-se de volta em sua alma. Morreram os dois de saudade tardia. Mãe e filho pararam para morrer e juntos voltaram a se ver. Um matou o outro com vontade de se ver. Eles se morreram porque um pôde sentir a morte do outro. A cabeça afundando na pele na parte do peito, repousou enfim do cansaço, todo sem jeito. A mãe já velha e ainda quente, seus últimos sinais ainda rondam e coagulam em seu peito. Os dois como uma escultura que caiu e não quebrou se enrolam mais na alma e descansam do seu jeito; a pele pálida e frágil e agora somente morna, perde o sangue que não encontra no peito. Os dois, ali, não caídos, mas deixados a Deus cuidar. Eles eram mesmo para morrer juntos ou separados de si mesmos.