Cortejo criativo
a morte da criatividade acontece
uma vez a cada período de tempo
período esse não definível
Não acontece devagarzinho, como uma doença
degenerativa que compromete passo a passo
cada núcleo de vida
ela parece mais como um sopro
como algo que você só percebe quando
já está acontecendo
e você desesperadamente (incontrolavelmente)
tenta de forma angustiada remediar aquela
condição espontânea, enauseante e
contraditória
você respira várias vezes,
respira fundo
como preconiza qualquer técnica de
auto controle
é em vão
quanto mais você se dá conta
mais ela está morta
mais ela desaparece
e rapidamente há um cortejo
que ao mesmo tempo que homenageia
amaldiçoa e culpabiliza
gritos silenciosos
em volta do caixão
todos os pseudo problemas
não ditos, não escritos e não pensados
exclamam dolorosamente sobre a perda
dissimulam alucinadamente
sem conseguir oferecer um
fim coeso para o episódio
Fiz coro com todos eles
e sofri como se não houvesse amanhã
mas houve
do nada
antes que pudesse vivenciar o luto
lá está ela novamente
nascendo
renascendo
viva
formando uma prosa sobre ela mesmo
despejando no papel
e fingindo que sempre esteve aqui