Naturalmente Poesia
Houve um tempo que pensei ser um rio perene de poesia. E eu achava que chovia demais na cabeceira do rio. E eu acordava com poesia na cabeça, viajava com ela no banco do carona, assistia o pôr-de-sol desfiando poesia. E quando mirava a lua e as estrelas do firmamento, ela me sacudia inteira, pedindo para ser escrita. Por fim, dormia com ela. Nesse tempo, eu pensei que estava ficando louca de tanta poesia na cabeça. E ela não tinha hora para chegar: tirava-me até da cama, de madrugada, e eu me punha a escrever. Mas um dia, acordei sem ela. Quando fui dormir, ela não estava por perto. Dias inteiros sem poesia. Nem a lua seduzia-me a escrever... Então pensei ser rio intermitente, que pode-se caminhar em seu leito a pé enxuto durante a seca. Entendi a minha natureza e aceitei, resignada. Entendi que tenho fases, como a lua. Que tenho estações. Aceitei que é a minha natureza. E sei que quando a seca passar, outra estação há de chegar para ser poesia precipitando como chuva dos céus.