Quarto de hotel
O vento passa desenhando frescores na tela dos ares, com tintas invisíveis pingando das pontas de seus dedos. Em espirais desarruma os penteados da primavera, espalhando pétalas e folhas pelos jardins da avenida.
Nas solturas dos acordes em assovios, o silêncio dedilha folhas de palmeiras e solfeja canções na beira da praia. Espumas se rasgam em meio aos barcos ancorados. Das velas estendidas o branco acena levezas ao sol que desmaia por trás das águas. E o arrebol se mostra para o cais em solidão. Despe-se e fica em matizes para navegar na amplidão do azul do céu, até que o navio pirata da noite chegue roubando-o para seu baú de escuridão.
De saudades então o resto de tarde se mata e um véu de nuvens se dilacera, talvez para deixar o luar por entre as brechas a pontear lirismo aos olhares apaixonados. Mistérios das alturas infinitas acenam adeus aos restos de sol que insiste em ficar e deixa luzir fragmentos de rochas distantes fazendo poesias estreladas.
A praia totalmente nua fica com a cabeça encostada nas muradas da avenida e o mar fica a friccionar sais nos seus calcanhares; Enquanto, da janela do quarto, desfio poesias vendo o farol da inspiração, guiar-me nas navegações que faço no oceano de desejos, para aportar no continente de prazeres do corpo da mulher amada.