Cavei

No campo de batalha, enlouquecido e só, cavei a própria cova, à espera do tiro fatal ou, um segundo... de misericórdia. Por dias dormentes e noites insones... esperei. A eternidade dos segundos fez acostumar com a ideia da morte, eis que morrendo aos poucos... relaxei, larguei o fuzil onde não pudesse alcançá-lo antes que a morte alcançasse primeiro. Já não haviam medos... e nem segredos, deixando ver por inteiro, mesmo que visse primeiro... e lograsse esconder. Aos poucos comi do que não tinha e bebi do que não havia... devorei o passado e vi o presente em inanição, ao ponto de faltarem forças para puxar a terra e cobrir o leito de morte, num último e desesperado ato de vida... e morri assim, por si só, sem que houvesse outro inimigo senão eu, a espreitar a vida sucumbindo à morte.