Tobogã
As canções da chuva espalham notas nas cumeeiras das casas e rolam pelas goteiras indo brincar nos pés dos quintais. Arteiras são as brisas que sacodem o verde das folhagens molhadas, como que as convidando a dançarem. Depois vão embora sem piedade das folhas secas que se desprenderam do caule no momento do baile.
Da janela espio um tanto de nostalgias rolarem nas bordas do tempo. Da mente, o chão sulcado de sentimentos se enche de poças das mais variadas tempestades da vida. Mas também deixa florescer jardins da brandura que regam as garoas finas das felicidades e das conquistas.
A rua desnuda-se e deixa-se lavar esfregando poesias pelo corpo, quando nos cantos as enxurradas arrastam suas vestes esfarrapadas em papéis e plásticos. As pessoas é que as rasgam diariamente.
Sobre a rede cinza estendida nos ares, um trovão ronca puxando uma nuvem encharcada e parece torcê-la, tanto que a chuva aumenta. E me deixo nesses silêncios que desaguam e viram canções nos telhados.
Fecho a janela e no papel de parede do computador vejo um arco íris surgindo no teu olhar. Sorrio. Tobogã de meus desejos, nessa saudade de ti me deixa deslizar nele até cair no cantinho de teus lábios.