AS SETE NOTAS DA AURORA
E de repente, você. Eu caminhava pelas esquinas noturnas ouvindo o ganir dos cães, a melancolia inútil dos poetas e os desvarios dos bêbados das praças de minha cidade. Sempre atento e com dores na alma, parecia subscrever um arco-íris no céu da noite que se alastra e afasta, um arco-íris over the rainbow que tivesse, no final, o tesouro do acaso de Caio Fernando Abreu. Pulsando todos os chacras como quem aperta o gatilho de uma espingarda e esparge o perfume de uma memória febril, latente e piegas de um caso que muito mal me causara. - Ferida se abre é pela boca e se sente nos olhos -. Mas, de repente, veio você e o seu olhar, e o seu abraço, o seu beijo, seu jeito terno de dizer-me as coisas mais lindas do mundo, jeito sem concordância e coesão (sem mínima coerência de destino) de cantar a mesma nota simbólica do afeto que Neruda derramou nos Andes Chilenos. Veio você e a minha esperança renasceu. A esperança ardente e necessária de acreditar que o amor pode atracar no Porto da Baía de Vitória do Espírito Santo, que o amor pode ser notícia no alto do Penedo ou ser minimalista como o toque das mãos que se encontram no Parque Moscoso e cintilam, tal qual hosanas e gratidões, na Igreja de São Gonçalo. Que quebra e renasce como onda da Praia de Itaparica, mais forte que o gim tônico da balada do mangue de Itapuã ou que seja apenas, e tão somente, uma batida acelerada dos peitos que se colam num aconchego de domingo, quando a chuva cai. Amor é o que resta quando raia a aurora da manhã de segunda-feira!