Nas Auroras do Amanhã
Na sua fronte calcária e enegrecida pelo vento polar das noites, bem ou mal passadas, via-lhe luz. O castigo de ser-se invisível aos olhos o tornara numa estátua abandona, envolvida pela umidade e musgo.
Aquela divina obra agora pertencia aos poucos atentos. A sensualidade da alma retrai-se, oculta, na ausência dos traços e curvas. A beleza tem uma forma clara, mas não uma visão concisa.
Tornara-se num oculto e terroso âmbar, cheio de histórias aprisionadas por contar. Perdido no meio de outras tantas pedras, ele acabara por transformar-se numa delas.
Quis talvez os destinos na memória, recolher aquele sujeito ao submundo do esquecimento. E lá os dias de claridade ofuscam vidas. São apenas vultos e sombras.
Inadvertidamente, no distante horizonte de sol perdeu-se tudo. A noite chega, tudo leva, tudo vence. Sem prestar contas à ninguém.
Hoje o dia dizem ser de sol. Noutros hemisférios mais ao sul.
Aqui só há noite. E é só da tua fronte que emana a claridade ! De toda tua grandeza submersa em mim.