(o amigo cego e o poeta)!
Meu amigo, veja como canta na noite
Mirando, chamando, clamando de dor
Ouça triste canto da ave que chora
Que pena a amada, a perda do amor!
Mas poeta! Este som me arrepia, dá medo...
Mau agoura, pressagia desgraça e entristece.
Como pode...? Aonde o poeta enxerga nisso, beleza?
Cadê a dona deste canto macabro, que não aparece!
Meu amigo, “Urutau”, esse é seu nome
Não sabes? Não conheces, que ela é mãe-da-lua?
Que tanto padece a amada, pela falta do amor
E por isso chora abafada, canto de dor!
Meu amigo, sinta o perfume desta pequena no campo
Realçando a magia que faz brotar, natureza
Unida a ave da noite, eternizando amores
Copiosa, faceira, de exuberante beleza!
Mas poeta, agora penso teres indo, longe demais
Nem sei como enxergas, vendo ausente encanto
A pobrezinha agoniza, falecendo aos poucos
Cadê sua graça e a beleza ditada, deste fúnebre canto?
Meu amigo! Não vês que pequena resiste e nunca se entrega
Mesmo prensada, encolhida, simbolizará sempre o amor
Sua essência e formosura, independe do tempo e do espaço
Por isso lhe afirmo amigo, que um jardim colorido e revestido
Ele nunca será mais belo do que essa sofrida,
Resignada, abafada e acuada, que atende pornome de:
Flor!
Sendo que aquele que enxerga
é exatamente o poeta...