O SUMO SARCERDOTE
Na cidade, onde tudo é escuro. Lugar em que a lógica segue o sentido contrário. Chove de baixo para cima. O rio corre, voltando. O vento não faz a curva. Sol é, ilusão. A lua: ficção.
A Terra é plana. O pensamento é quadrado. O raciocínio é embaçado. Os fanáticos, tolos, estúpidos: estão no passado. O presente e o futuro, exterminados. Lá o dia é noite; a borboleta que dá o açoite!
Nesse lugar, onde tudo é escuro. O reverendo profana os mortos. Venera a morte. Insulta, os vivos. -- E é crime de morte, falar em amor! Ainda promove a dor.
Na necrópole, o sacerdote sádico, cultua o poder. Contrariando a razão, os desvalidos, já desfalecidos; introvertidos, falam emitindo o som, de fora para dentro, do peito ferido.
O medo tapa as vozes. A sombra imponente, impõe a venda candente. A mordaça asfixia, o enfermo, o doente.
Na ausência de luz, há infames, querendo ser crentes. Distorcendo a verdade. Confundindo a mente. E quem sofre, são os pobres, os fracos: a gente.
--Tudo por causa da liturgia do sacerdote!
Carlos Alberto Barbosa.
In Brasilis de Cabrália; Necrófilo: Século, XXI.