O vento por ser vento ventava

A página estava em branco,

e nós também estávamos,

as malas estavam vazias,

velhas roupas penduradas no nada.

O vento por ser vento ventava,

abraçava as folhas e as carregavam.

doce pedaço de tempo,

salgado adeus renegado,

aconchego lúcido deixado,

lembrança e refresco gelados.

A ponta já não era mais ponta,

e o resto só sabia ser resto,

rasgando dos olhos as colas,

piscavam pela vez primeira.

O vento por ser vento ventava,

pois por natureza só sabia ventar,

espalhando a poeira,

atiçando a alergia,

corrompendo o passado,

desfazendo alegrias.

Doce pedaço de tempo,

completo caminho largado,

deixado pensamento que rasga,

aponta os feitos do nada.

A ponta já não era mais ponta,

e nem por querer podia ser,

abria-se aos olhos de fora,

libertava, descobria, sondava.

E a página pintada de branco,

fazia de nós seus escritos,

jogavam velhas roupas nas malas,

e nos fazia fugir do ventado.

Claudemir Evangelista
Enviado por Claudemir Evangelista em 07/10/2021
Código do texto: T7358718
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