O vento por ser vento ventava
A página estava em branco,
e nós também estávamos,
as malas estavam vazias,
velhas roupas penduradas no nada.
O vento por ser vento ventava,
abraçava as folhas e as carregavam.
doce pedaço de tempo,
salgado adeus renegado,
aconchego lúcido deixado,
lembrança e refresco gelados.
A ponta já não era mais ponta,
e o resto só sabia ser resto,
rasgando dos olhos as colas,
piscavam pela vez primeira.
O vento por ser vento ventava,
pois por natureza só sabia ventar,
espalhando a poeira,
atiçando a alergia,
corrompendo o passado,
desfazendo alegrias.
Doce pedaço de tempo,
completo caminho largado,
deixado pensamento que rasga,
aponta os feitos do nada.
A ponta já não era mais ponta,
e nem por querer podia ser,
abria-se aos olhos de fora,
libertava, descobria, sondava.
E a página pintada de branco,
fazia de nós seus escritos,
jogavam velhas roupas nas malas,
e nos fazia fugir do ventado.