SEMEAR CHORANDO

Semear chorando é semear sem ver a colheita. Às vezes, os únicos grãos que temos, estão na cesta! Mas, não há como semear, senão com lágrimas; pois, as intempéries, as adversidades, nos afagam. Por que saber que a semeadura precede a colheita? Então, você olha para a fome, para as dificuldades e, olha  para a cesta. E, pensa! Tenho que semear. Ah! Esta é a ordem: primeiro a semeadura, depois a colheita. Se não semear, a semente não morre. Não morrendo, não brotará! E no mais, eu sei!  Semear chorando é semear sem saber se irei colher, até mesmo contra a esperança. Será que irá chover? Semeio, mesmo assim; pois, plantar faz parte do meu estilo de vida. Não importa se valerá a pena ou não: então, com lágrimas, lanço a semente ao chão. Semeio chorando! Semeio, colocando no solo o grão, que hoje falta para a boca, e para o corpo, a roupa! Semeio passando fome hoje para amanhã, ter o pão. Acordo de madrugada. Acordo contra a minha vontade, para estudar, para trabalhar, para a marmita preparar. Talvez, ela esteja fria na hora do almoço. Talvez, a comerei, no ônibus, no meio feio da rua, na torre; ou, dentro de um poço. É! Quem não sabe que a vida é feita de esforço? Semeio chorando e vivo de um modo em que não há vergonha em minhas práticas. Vivo não para ser reconhecido em meu valor, mas vivo de tal modo que seja reconhecido, o meu suor. Semeio chorando porque sei que a vida é feita de lágrimas e sorrisos, de insônias e sonos, de sonhos e frustrações, castigos; de sombra e luz, de vales e montanhas, de medo e paz, de derrotas e vitórias. "Quem sabe, faz a hora". Não chegarei ao topo da montanha, se não subir, e não subirei sem suar, sem me perder, sem me cansar; ou, tropeçar. Não atravessarei um rio, se não tomar um barco, ou nadar. Não chegarei ao meu destino, se não fizer a viagem. Não terminarei de ler um livro, se página por página não devorar. Jamais construirei uma casa tijolo após, tijolo, se na obra, aprumados,  não os empilhar. Não formarei uma biblioteca, se nela, livros não colocar. Não participarei de minha formatura, se dia, após dia, não lucubrar. Não passarei em um concurso, se numa rotina dura, dominada pelo verbo, me entregar. Não colherei, se não plantar. Não construirei coisa alguma, se outras, não me faltar. Semearei chorando, sabendo não haver missão impossível em plantar! Que ela precisa ser realizada. E mesmo que (chorando), forjado nas fráguas! Ainda que (chorando), semear!