O desaguar do meu Ribeiro
Numa ribanceira, por entre as pedras, eu brotei...
Minha nascente corajosa desbravou a terra quente e muito dura.
E sobre o chão seco do meu sertão por muitas vezes evaporei...
Minha longa senda resiliente passou bem longe da fartura e sob o sol inclemente do verão eu camuflei meus rituais,
adentrando o grotão entre as árvores retorcidas do cerrado ciliar.
E segui adiante numa fluidez ainda mais pura...
Quando ali, nas sombras, decantei todos os meus (s)ais, os meus segredos, em murmurejos, a sussurrar...
No descampado, por muitas lidas condensei...
E precipitando-me em intensas mágoas doloridas, me entreguei ao cuidador da natureza que, piedoso, fez-me chover sobre o terreno irregular.
O Sagrado líquido, grande bênção, pra garantir a nova vida e restaurar-me a plena paz, a fé em Deus e a leveza...
Por tantas noites e tantos dias, no calor eu desaguei...
Mas refrescando-me nos recônditos remansos fui refazendo-me sob os ciclos dos descansos.
Mas se nas tempestades de fim de outono eu transbordei... Também espalhei-me pelas veredas do meu sertão interior.
E no inverno as minhas forças renovei...
Corri veloz sobre o leito que se estendeu ao meu redor...
Minhas enchentes, à muito custo, controlei...
Mas me causaram as la(g)(c)unas que carrego.
Na primavera as belas searas coloridas irriguei, fazendo brotar diversos flores às quais me apego...
Assim, sigo viagem num lento percurso rotineiro...
Ora enchendo ora drenando o meu Ribeiro.
E se de fato todo rio busca o mar,
aqui vou eu, deixando as águas me levar...
Adriribeiro/@adri.poesias