Breve lição do tempo (ou, como saborear a experiência do ancião)
Por quanto tempo haveremos de esperar o amanhã. Será que devemos esperá-lo, ou, como a impaciente criança que antes de chegar o dia marcado, rompe a curiosidade, rasga o pacote e antecipa a surpresa, devemos reduzir a espera e a ansiedade, e anunciar, por conta e risco, o dia que se anuncia?
Mas...se se assim fizermos, não corremos o risco, o sério risco, de, como a insubmissa criança que não espera o tempo da surpresa, nós, o contrário dela, que tem a seu dispor mil possibilidades de se alegrar, chorar e, depois, como se um novo tempo, sem regras e sem olhares, lhe abrisse outros momentos que sós às crianças são permitidos. Nós, velhos e adultos, experientes e calejados pelos caminhos da vida, nós, que já nos iludimos e nos desiludimos, que amamos, sofremos, sofremos porque amamos, não temos o tempo da criança. Nosso tempo, mais rápido e desesperado, como um foguete, passa tão rápido que, num piscar de olhos, vapit!, já não é o mesmo.
A vida, caros amigos, ouvi certa vez de um ancião, a vida é como um jardim. Devemos cuidar, regar, adubar, enfim, devemos, devotar à vida, cuidados. Cuidar como se ela fosse um cristal, uma semente em ger mi na ção,. disse o velho pausadamente, para que, ao brotar no solo de nossa existência, ela faça nascer as flores. Flores que são nossos amigos.
Por quanto tempo haveremos de esperar o amanhã?
Depois da pergunta, o velho, como uma travessa criança, deu um largo sorriso e saiu. Saiu cantarolando algo que não ouvimos, mas, do jeito que saiu feliz, era uma canção bem legal.