Vidas afora

Das enchentes aprendi que a vida oferta suavidades, mas que a impetuosidade das tempestades é a gente mesmo quem faz. O azul do céu permanece nas pazes e belezas, mas o plúmbeo que rouba a brancura das nuvens ofusca os horizontes e deságua em emoções. O ser é dono do inferno e do éden. Não existem extremos entre eles. São paralelos. Pela mente as escolhas determinam a linha imaginária entre eles e sugere as investidas para um lado ou para outro.

Das quietudes aprendi que os tumultos são necessários e que a vida pede urgências, mas não dispensa paciências. Das solidões são tristes os monólogos, mas são evidentes as audições dialogando depois.

Dos espinhos aprendi que a proteção é preciso, mas muito mais o cuidado sem ataques; e então vi a frieza deles acenando para a suavidade das pétalas; e ao mesmo tempo em que ambos exibiam sorrisos em cores e perfumes, também se crestavam sem perceber, sob o sol. Então era preciso chuva, mas em calmaria também, pelo menos para que as pétalas em suas fragilidades permanecessem ali, vivendo.

Do tempo percebi a indiferença nas esperas. Tudo se faz no momento que tem que ser. Das saudades há pedaços espalhados por toda parte, mas é do presente que o cesto se enche, para depois deixar cair novamente outros pedaços. E a esperança fica lá adiante apontando para o que não se sabe com certeza, mas que se cabe exatamente em todos os sonhos.

Das andanças todas notei que as paradas às vezes são a parte mais cansativa. E os horizontes falam de longitude, mas são perto demais as cabanas dos sentimentos. Dividem o mesmo universo; se cruzam vidas afora.

Takinho
Enviado por Takinho em 03/10/2021
Reeditado em 28/12/2023
Código do texto: T7355883
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