O Trem da Vida

De passagem, saltei do trem numa estação, e encantei-me com o que vi ali. Cidade pacata, bucólica, poética, com suas praças ajardinadas, casas simples e convidativas... algumas com espaço para uma pequena horta ou pomar. Apaixonei-me pela inspiração que me trazia. A cada paisagem, nova poesia, a cada sol resplandecente e noite enluarada, mais eu ficava encantada, e fui deixando-me ficar, enquanto me sentia atraída e a atração era retribuída. Havia perfume de mato e flores no ar, melodia de passarinhos por todo lugar, e a simpatia e carinho das pessoas que ali viviam. A harmonia era total... tudo se encaixava, até que, de repente, comecei a sentir-me mal. Eu não pertencia ao local... não tinha raízes ali, afinal, e passei a sentir que destoava, que estava sobrando. Sou de cidade grande, e embora tenha adorado a estadia, a novidade, era hora de voltar pro meu lugar, pra minha urbe, e continuar minha busca pela felicidade. Voltei à estação, peguei o trem, e fiquei olhando pela janela, à medida que ele se afastava. O vento soprava meus cabelos pra fora, como se quisesse segurá-los e entrar na minha cabeça, dizendo: não vá, e se for, nunca me esqueça! Mas fui, e tudo pareceu voltar ao seu lugar, como quando cheguei... como deveria ser e permanecer. Tudo tinha sido lindo, mas aquele sonho estava findo. Hora de virar a página e, novamente, buscar aventuras... ou um canto para sossegar... ou ainda, quem sabe, voltar pra lá.

Ouvindo Pretenders - Back On The Chain Gang - (1982) Tradução

https://youtu.be/zGpvuKE2cZg