Nosso encontro
Visito-te todos as noites, só para ver o enrolar dos teus novos cabelos; contorcendo-me, indo e tornando, pendendo e brilhando, como o nosso caminho.
Nele eu vagueio por horas; me perco nos signos do teu corpo noturno, como um poço de encantos, ora sorrindo, ora chorando, como o nosso caminho.
Esforço uma lembrança feliz.
Contrasto, mais tarde, com as lacerações profundas talhadas em meu coração. Dissimulam as vozes das paredes, soprando ao meu ouvido tão somente aquilo o que quero ouvir.
Os sepulcros onde jazem as verdades, não os quero abrir. Empenho em mantê-los trancados, sepultando tuas palavras não ditas, ressoando enredos que tracei para nós dois.
No oceano do meu quarto navegam as tuas embarcações. Tuas naus, teus veleiros, que embalam nos ventos de Éolo, que cortam o meu mar como espadas de seda.
Imergindo nas águas, sacodindo entre as vagas disformes que surgem de tua proa, permito-me sucumbir diariamente, só para te encontrar no profundo dos meus sonhos.