Mais um dia
Pobre Maria, desvalida
Caminha peregrina
Mulher seca e vazia
Que sequer lembra
Do que é sorrir
Esqueceu-se de sentir
Até das mais simplórias coisas
Só sabe sentir medo
Numa coragem revestida
Não sabe mais o que é viver
O que tem feito é sobreviver
É somente isso que sabe fazer
É só que precisa fazer
Sobreviver mais um dia
Mais um desafio
Mais um tormento
Mais um enfrentamento!
O amanhã é uma incerteza
Não há planos, não há risos
Apenas tristeza, dos dias, a torpeza
Maria que já foi plena
Rodeada de tantas belezas
De posses, em abundância de fé
Hoje depara-se com portas fechadas
Esqueceu-se do que é ser mulher
Com a escassez, o pesar que carrega
Da falta de esperanças
De uma luta solitária, seus sonhos sonega
De encarar mais um dia de batalha
Sem ao certo saber
O que será, o que esperar!
Caminha ela perdida
Sem rumo, sem norte,
Sem sequer saber o que virá
Perante a lei do mais forte
Realidade de tantas Marias
Que diante de tantas necessidades
Esqueceram-se de acreditar
Abstendo-se de suas conquistas
Escondendo-se na poesia
Pra conseguir suportar seus fardos
Das lembranças,
Dos dias abastados
Que esvaíram como areia numa ampulheta
Onde sua única certeza
É mais um dia desventurado
É um mar de obstáculos pra enfrentar.
Heterônimo:
Maria Mística