Madrugada calada
Silente é a cidade quando a madrugada se aquieta; e nos escombros dos tumultos causados pelas rotinas nas pessoas, repousam os cansaços. O ser se constrói quase que na mesma medida e no mesmo tempo em que se destrói.
As ruas têm cheiros de lixos; e nos luxos de ventos solitários, pedaços de papéis mudam de lugar em saudades e poesia. Nas árvores dos parques nus, folhas secas se desprendem dos galhos e são como canções de despedidas no pé do ouvido dos novos brotos.
Os semáforos piscam cores em advertências, na solidão dos leds aprisionados. Entre canteiros, as avenidas norteiam o ir e vir no vazio esperando a manhã chegar. E as calçadas se estendem sob a dormência dos rastros. A cidade dorme revirando sonhos e pesadelos pelos becos das desigualdades.
As horas se entretêm na tecitura do calendário e lentamente vão se costurando em minutos e surpresas.
O escuro folheia estrelas no céu, lendo saudades nos olhos dos boêmios que as contemplam, cá dos rodapés da noite. Coração é casa onde se batem portas e janelas nos chamados das emoções que saem da mente. Sejam alegrias ou tristezas. O ritmo segue a intensidade de cada uma delas. O amor gosta de vadiar pelos segredos que só ele sabe revelar.
O silêncio tem muitos elos com os gritos nas cavernas da alma.