Morte do palhaço
O que posso escrever sobre isto?
Que uma decepção está acabando comigo?
Que me olho no espelho, olhos vermelhos, em prantos, idiota!!
E pergunto a mim mesma, ali: o que é isto?
E a resposta que encontro, é de que estou morrendo?
Pois esta deve ser a exata sensação que terei quando morrer;
Eu me agarrando desesperadamente em uma pena de mim.
Francamente, deve ser assim que se sente quando se está para morrer.
Mas, por que fui acreditar numa farsa tão perfeita?
Como pode uma coisa ser real e mentirosa, ao mesmo tempo?
Como pode a verdade fugir de si mesma, assim?
Tão covarde, tão fria e insensivelmente?
Isto que posso escrever sobre isto, é a realidade da vida,
é o uso que fazem uns dos outros, sádicos
Covardes, crápulas e mentirosos.
Ta com medo é? Pois eu é que de agora em diante, terei medo.
Medo, pavor e desconfiança!
Hoje posso afirmar com certeza, que nunca mais estarei assim, tão inteiramente.
E me entregarei, me abrirei e me mostrarei como sou.
A ninguém... jamais!
Comprarei uma máscara nova, talvez de palhaço, na loja desta vida,
e a usarei, não contra mim, mas contra os outros, palhaços ...
Sim, chega de me dar, de me entregar,
pra que quando eu me sinta a beira da morte,
como hoje à noite, não me neguem mais uma simples presença
para que jamais tenha que implorar um afeto.
Um simples abraço, que tudo resolveria, um simples beijo,
que custaria um minuto ou quinze, e eu não me sentiria mais a beira do precipício neste estado.
Será que morri e não sei? Com máscara de palhaço?
Sim, sei, daqui a dois dias ...
Segunda-feira, quanta frieza, quanta desumanidade,
se eu estava morrendo hoje: sábado ... como poderia esperar
até segunda-feira? Ah! Deus, eu entendo tudo agora.
Assim é a vida que queres que eu veja!
Pois bem. Compreendi tua mensagem, posso continuar morrendo ...
Mas quero Deus, que saibas que peguei teu recado.
Volto ao fundo daquele buraco, pego a máscara
e me visto de vermelho inchado, para sorrir ao mundo encantado!
06/1979