Histórias ao fim da idade
Era tão pequeno o corpo que mais parecia um detalhe. As pernas e os braços magros, o pensamento de imaginar miragens, o medo de fazer gritar. Cresceu-se de tanto teimar. Assim, miúda, sabia que não bastava viver, era preciso contar. Desde muito nova as histórias do pai lhe habitavam, como se habita uma casa, a morar. Eram histórias para adiar o fim do mundo. O pai narrava suas conversas com o infinito, as vezes que viajou para dentro do livro e a língua falada pelos lírios. Imaginava cada parte, cada detalhe, e agora, já tarde, a conta devagar. Conta aos filhos e a quem tiver ouvidos. Não mais as histórias do pai, mas aquelas que a fazem corar. Não consegue mais levantar. Sofre de idades. As histórias que agora narra inventam outras humanidades. Suas histórias é o que ainda a faz acordar.