Infinitude
O tempo é um ancião que aponta o cajado para o infinito. Não possui sabedoria, senão a de grafar ferrugens e fuligens nas coisas. Expressivamente vai salpicando marcas nas caras das juventudes. Não se desnorteia com emoções. As mais felizes e as mais tristes nunca que são mais. Apenas acontecem.
Intangíveis e necessárias são as inconstâncias, ainda que por vezes inadmissíveis.
A rua está deserta e estica distâncias ao lado dos pés das casas que guardam pessoas em seus interiores. As janelas, em suas transparências verticais, se entreolham disfarçadamente, em risos arquitetônicos trancados de concreto. Silêncios varam a madrugada, enquanto a cidade dorme nos acalentos da solidão.
Inquietudes pisoteiam o tear das emoções e entrelaçam fios de vivências. O presente rasga saudades e costura esperanças. É um sol que nasce e outro que se esconde, quando estamos no meio dos horizontes, estagnados, olhando para o nada. E o tempo segue nas suas andanças, sem percepções de cabanas ou relentos. Único e solitário, desfia dias e noites da tecitura infinda dos milênios.
Miro-me no espelho e ele, fitando meus olhos, me conta segredos sem mover os lábios.