Imagem e conceito
Algum dia, de algum tempo, escrevo estas anotações sem nexo nem desejo de nexo, tal como a vida, para aliviar-me de uma impressão análoga a um sonho. Parece-me que durmo, cada impressão surge-me como de um abismo, um poço de silêncio. Estou absorto em nada, de consciência clara, luminosa, calmo como um lago de águas transparentes. Vejo, ao fundo de mim, sonhos velejando por mares nunca antes visitados; espanto-me com a vivacidade de minha imaginação. Como? Como pode haver vida? Seria tudo imaginação? O verdadeiro é falso?
Todas estas coisas familiares à minha consciência são tão estranhas; mais estranhas do que toda a estranheza; mais misterioso do que a sensação do mistério; mais louco que todos os sonhos dos poetas.
De repente surge-me do abismo de mim diversas perspectivas metafísicas sobre a vida, sonhos sublimes, delírios insanos, todos plausíveis de serem reais. Reais? Oh, pelos deuses que não há! Que digo eu? O que há de "real" na vida?
Mas logo ilumina-me o sol da suspeita e desperto da loucura, vejo as miragens de minha alma sedenta de criação pelo que são: imagens...