desabafo

Não surpreende, amigo, a inconclusiva razão porque, aquele outro, néscio em tudo que fala, tivesse o palanque montado. No entanto, e daí a surpresa, foi vê-lo, você, que noutros tempos, não muito distantes, saía a professar seus dogmas. Você, como todo aquele que se entrega a causas, sem, ao menos, tentar entender a que se prestam, como se, igual a algo que nasce por geração espontânea, sem relação com o que gera, você, por inúmeras vezes vociferou, aos gritos, e com ofensas, palavras duras a seus "opositores". Todavia, agora, embora, na essência seja a mesma coisa, você se apega a outra "bandeira" e tenta impô-la, da mesma maneira de quando se dizia contra o sistema. Como negar, caro amigo, tal qual aquele - que você diz ser o representante de novos tempos, possa ele, como o vulcão que expele sua lava sem critério e sem saber a destruição que deixará - como, pode você, sem a mínima garantia, a não ser por mero sectarismo, dizer que o beócio seja indicativo de novos tempos? Lamento, mas, em nada difere; essencialmente é a mesma coisa. É a mesma coisa deixar que milhares de pessoas morram sem atendimento ou fechar hospitais. Assim, e acredite, não encontro palavra que melhor defina, assim lançar mão da Necropolítica como medida estatal, é o que alguns autores tem estudado para tentar entender essa nova modalidade genocida. Dito isso, caro amigo, e considerando o que se tem notado nas aparições daquele que nem o Oráculo ousou citar, nada mais resta senão lamentar. Ao final, trata-se de se entregar a iniciativas que ao final buscam modos de se darem melhor pouco importando dos males que causará. Assim agem todos os que não tem a Humanidade no horizonte. Você, igual a tantos outros, e eu o conheço há muitos anos, sempre se pautou por qualquer coisa que pudesse lhe trazer algo de vantagem. Por isso eu lamento. Nos tempos atuais, a bandeira com a qual você se cobre, mais do que significar uma guinada anti humana, apela para atos que perpetuarão por gerações. Nesse caso, sua cegueira custará o futuro de milhares de pessoas, inclusive da sua descendência. Aí, sinceramente, o quê você diria?

Diante do silêncio, nada restou. O velho amigo, sem dizer algo a mais, tomou seu café, pegou o chapéu, saiu.