PEQUENO MAPA DA TERNURA
 

Os pés poderiam seguir sozinhos, visto que foram eles que, no ir e vir, fizeram o traçado daquela linha sinuosa de terra encharcada, que se estendia entre o capinzal e foi se tornando um caminho. Tão estreito, quase invisível, mal cabiam os pés que caminhavam. Ele passava pela bica e seguia em direção a uma área menos úmida, escondida no meio do brejo e recoberta por um tapete de grama. Ao redor dessa área cresciam juncos, taboas, malmequeres, lírios, e toda a biodiversidade criada para viver nos alagadiços. Mais para Leste, o brejo ia dando lugar ao areal na beira do rio.


O caminho não se importava em ser chamado de caminhozinho. E por ser muito compreensivo, admitiu o apelido de "caminzinho" para os mais íntimos. Seguindo o exemplo, o capinzal nas margens passou a ser "capinzinho", a bica era "biquinha", a área verde do pântano era o "campinho." Era natural e costumeiro o trajeto da meninada pequena em direção ao campinho, onde se divertia correndo atrás das borboletas: as Contentinhas, centenas de florinhas aladas colorindo o céu. Bonito de se ver e mais ainda de se sentir.

 

Na linguagem terna das crianças tudo era diminuto, não de modo pejorativo, mas no sentido de aproximar as coisas do mundo ao formato de sua ternura.

Zaira Belintani
Enviado por Zaira Belintani em 13/09/2021
Reeditado em 21/11/2022
Código do texto: T7340989
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