A razão gera a inação e a inação o saber nada _ o nada é coisa nascida _; Do pensar pertinazmente a vida? E a vida?
Desprendo-me de nada, pois nada me constitui, no que digo penso, não sou; No que ajo, durante, não penso, sou o que faço; Acho-me em desencontros de tolos, o não tolo erra e como erra; Faço-me a medida que escrevo, do que constitui-me penso, no que sou penso, já não sou ou deixarei a ser, deixar-me-ei; Sinto como se estivesse morto, mas morto enquanto penso analogamente a causa sui, o cerne do que me constitui em cadências até o eu, que não pensa, mas age ou eu enquanto age e age pois pensou em concordância com a ação, ou seja, o eu; O subproduto destas análises em confrontos são sínteses, mas a cada síntese haverá sempre antíteses, há de ser assim, se não, não haveria isto; Penso, pois não sou, sou onde não penso? Cogito? Ou tudo seria sensações lacuginósas de um encéfalo, remendos de um homem louco? Se não o sou, pensaria, por isso não o sou; Sinto-me uma criança admirando as certezas de adultos, como o olhar sério e confiante de um grande general, César, ao meu ver o maior; Rabo para aquém do lagarto, ou lagarto aquém do rabo após cortarem? Sinto-me algumas vezes indisposto frente ao real, como quem muito sonha e nada faz, mas que o faz de tanto sonhar; Sinto-me irresoluto e irrestrito defronte a supérflua aclamação dos homens grandes, penso que só os menores de alma os podem admirar de fato, enxergar a sua verdadeira grandiosidade, que se expressa em suas conquistas ou obras, mas que ali não está, só os grandes como estes enxergam nossa grandiosidade, nos vêm realmente como o pêndulo em outra posição parado, inesperadamente interrompido do seu fluxo natural por uma mão aquém deste jogo do real, e irreal, subjetivo, e objetivo; Sinto-me exausto em sempre acertar e sempre perder; Sinto-me exausto em me levantar, pois tudo é sono, já o estou não metaforicamente; Sinto-me exausto de aprender tudo tão rapidamente, tão veloz como os seus homens construindo muros, ou navios atrás do seu arquirrival, do qual seu exército é constituído de amadores; Sim, estou cansado de sonhar em lógicas puntiformes e singulares, infinitamente densa, e em árvores em crescimento exponencial, autóseidea, mas nunca, nunca elevo-me o suficiente para crer no real, crer que estou pronto, não, não o nego, nego-me ao saber que sempre erro frente a ele, sinto-me apenas indisposto em discursar, sofismas não me compõem e a resposta mais simples quase sempre é a mais elegante, e eu tão frívolo em minhas complexidades imaginárias e infrutíferas, irreais e dramáticas, trágicas e vis; Acordo-me com a certeza gritante que hoje é o dia, logo durmo em pé durante todo ele, permaneço no meu fiel egocentrismo de ser, rebelde e subversivo, mas calado em suas pronunciações, profanando apenas o que é, sua impotência frente ao real, aquele que sobredetermina a lógica e o sentido, aquilo que está para além de tudo; Morremos, todos os animais morrem, porém, somos os únicos que escolhem como morrer, uns esperneiam, outros declamam versos de amor na espera de um salvador que os tirem a angústia, que os amamentem ad infinitum em vossos berços, outros clamam a um deus, seja lá qual for, todos eles apenas nos droga temporariamente como aquela, não vale o esforço, e outros optam por viver, uns se tornam grandes e outros piores que vermes por não saber ser grande ou pequeno, ficam ao relento do meio termo e como tudo que é indeciso, mórbido, morno, vomitamos; E há outros como eu, outros que escrevem versos em versus ao soprar dos quatro ventos de sua imaginação profícua; Estes longínquos de tão perto, sorrateiros de tão melindrosos, sagazes de tão corajosos, heróis de tão diminutos, pergunta-me, heróis de quê? Respondo-te, do nada, da vida.