Esfumaçou Tudo
Esfumaçou Tudo
A fumaça invade espaços, define o cinza de tudo, impõe o lado neutro da cor.
Não foi o suficiente, o esperado do estado crítico de fim de inverno, fazendo das árvores, mendigas de água. O fogo as tem sacrificado, levando elas e a bicharada à incineração.
O passarinho, sem ninho. O gado, sem pasto.
O Sol, único imperador no céu.
A fuligem, caindo lentamente no chão, como salto de bailarina no palco, quintal de casa. Silenciosamente. Sem pedir licença.
Água pouca na torneira. O chão, coberto de cinza. A conta do consumo no final do mês dobrando.
Testemunhei nos últimos dias, o sofrimento da natureza.
A alma chorou. Sofreu, na calada, do sentimento de impotência. Do prejuízo inestimável à natureza.
Hoje, bem cedinho, consegui sentir o que deveria ser normal. Quando saí lá fora, respirei o ar quase puro. O cheiro de fumaça ainda pequenino.
Ah! Me fartei! Antes da meditação matinal, levei o ar aos pulmões com muita intensidade, lembrei do ar puro!!! Matei saudade dele.
Depois, levei o ser à recreação diária, deixei o pensar ficar a solta. Macaqueou um pouco, sem as rédeas, no silêncio dos passarinhos.
Até que esqueci que pensava.
Ao abrir os olhos, depois de alguns minutos, senti aterrissar uma fuligem na ponta do meu nariz.
O dia começou.
Ainda bem que tudo é submetido à suprema lei da mudança, e isto um dia será varrido da consciência que porto.
Viajante das estrelas somos! O que leva é o aprendizado.