DEIXEM-NOS EM PAZ, BANDIDOS!
E como eu vi sorrisos em promessa
Acreditando na tão sonhada mudança,
Aquela, aquela cheia de esperança,
Mas nada, nada mudou em cem anos.
Eu vi apenas parte desse tempo
Ouvi muitos gritos de novos tempos
Mas como o estrondo do trovão
Vi amarelar, passar, exaurir.
Ó doce tempo de grandes esperanças!
Faixas verdes amarelas e o grito:
O gigante acordou, o gigante acordou!
Juro que por um tempo acreditei
Planejei novos sonhos, nova vida,
Utopia, apenas utopia, sucumbi.
O gigante ainda dorme em berço esplêndido
E nada politicamente por aqui mudou
Pelas bandas das terras tupiniquins.
Ou será que mudou e eu nem vi?
Mistérios guardados em sete chaves
No fundo do cofre da solidão
Maldade, quanta maldade
Ver teus filhos chorando, ó pátria amada
Ver tantos descalabros, tantas pragas
Sugando o teu sangue ó mãe Brasil.
É hora de chorar ou ainda é cedo?
Entre Jair, Lula, Fernandos e Pedros
Nada de novo no Front
Apenas choros e uivos desesperados
Teus pretos e índios desprezados
Que tu, ó mãe terra, que tu criaste.
Agora aqui sozinho nessa estrada
Sem nenhuma sinalização, luz apagada
Apenas contemplo o tempo
Com os meus fios de cabelos brancos
Tão abandonado e a mercê do lobo mau
Sem cesta nesta sexta na encruzilhada
Desprezado a minha própria sorte
Já sinto forte o cheirinho da morte
Será que terei como defesa o caçador
Para livrar-me desse mar de desmantelo
Com a mesma sorte da Chapeuzinho Vermelho?
Não sei se vou ou se fico, fui vencido
Já não tenho mais força de gritar,
Mas deixo o meu último suspiro:
Deixem-nos em paz, bandidos!
JOEL MARINHO