Falso super-homem
I: Imaginativa
Ele está aqui, mais ácido do que nunca, do mais alto amargor ele volta das cinzas. Das profundezas do amor fati, do açoite moral, levanta da lama e vai aos céus. Os raios cortam a garganta dos incrédulos. Sua destreza ontológica deixa rachaduras no solo, estremece os vermes para logo em seguida pisoteá-los. A sociedade não poderia esperar por isso, até cogitou sua inexistência, todavia, as águas começaram a escurecer como quando em outrora, Alexandre o Grande, prematuro guerreiro, banhou-se. Ele também deleitou-se nessas águas, contudo, dessa vez em enxofre e lava; a piromania moral é tão alta que ele não se permite ser infectado pelos limites do bem e mal. O homem mais perigoso chegou, todos os saúdam em gloriosus dei: ave Übermensch, magnânimo rei.
II: Arrogantia
Tudo está abaixo de mim, eu sou o homem do futuro, a força e bravura são meu domo espiritual. Venci os dragões draconianos políticos. Como Luís XVI, todos decapitados pela navalha beatitude. Sou o império romano, malejo os deuses sob meus pés, como uma criança pueril dirige a vida da colônia de formigas, sabendo que as matará somente pela diversão. Destemido e amortal, as únicas leis prorrogadas em minha autocracia.
III: Decadentia
Eu queria ser como o Übermensch, desbravar os mares da moral, domar os anseios do ressentimento. Sou um soberbo megalomaníaco, na imaginação, a quimera transmuta a dor em prazer. Horas no formato super-homem, onde as configurações do ego me levam na sinergia nietzschiana. Simples homem mais fatigado que ressentidos esperando o pós-vida, depressivo homem malhando seus ossos na melancolia de um dia perdido. Levanto do caixão, como praxe, a monótona vida me aguarda. Não sou um além-homem, nunca serei, tudo em vão. O fim me é benéfico como o fel de abelha, assim como a causa final de um objeto é sua predeterminação. Quero me matar imediatamente porque a transvaloração dos valores é utópica, inefável como o fantástico Deus, um mero ideal para um amanhã.