Beirais de solidões
Pálidas são as tardes nos beirais das solidões. Deixam-se despencar como que rasgando vestes de arrebóis infinitamente belos, para entregá-los nus na amplidão da noite. Saltam estrelas das superfícies mudas e rochosas que habitam o espaço. Os silêncios entoam mistérios, vagando pelos vazios que entornam receios.
Recolho canções no vento nômade, quando passa a galope no dorso dos ares, chicoteando as árvores e fazendo sangrarem os galhos em folhas e flores.
Rasgo poesias sem fim e as espalho nas ruas das ilusões, onde a boemia põe mesas para a noite dialogar, bebericando goles de ausências. A madrugada sempre ensaia audácias e depois chora como um palhaço ao sair do picadeiro, depois de provocar tantos risos, sem ter nenhum para si.
Líricos são os lugares que a mente enfeita de sentimentos e que o coração se deixa palpitar em alegrias. Deprimidas são as benignidades, quando extenuadas das tentativas mais vãs de se permitirem ser para o outro; em esperas e incertezas acabam não sendo retribuídas.
Refugio-me de mim, nas aldeias que construo nos arredores das minhas emoções. E na aridez dos meus sofreres, por mais que demore, ergo castelos suntuosos com minuciosos saberes que adquiro lentamente.