Classe definitiva

Quem nunca pensou jazer
aqui jaz na lousa fria
achando que pra morrer
aos outros é que cabia...

Solitário, no seu féretro de carvalho,
é o assunto dos amigos leais
embora indiferente-
no seu novo agasalho-
ao choro e às lágrimas carpidais.

Agora, na apostasia absoluta
do referencial em que foi colocado,
chega a ser até festejado...
Nesta ocasião fúnebre, impoluta:
são velas acesas, sinos plangentes,
arranjos de crisântemos, coroas de flores,
rezas profundas e palavras comoventes
que saúdam o morto e seus descendentes.
O esquife é de primeira classe
como elo último de sua classe A,
embora não se note na sua face
qualquer sinal de que agradasse...

Desobrigado da vida,
e finalmente na classe definitiva,
este distinto ser se iguala aos outros docemente
na distinta classe dos entes extintos.
Tecido que irá virar barro
na metamorfose para o antigo ser
passa a ter de modo bizarro
a mesma estrutura que todos vão ter...

Pós-mortem virão homenagens
enquanto seu corpo vira pó,
falando da alma e da imagem
com missas e encomendações do corpo.
E só!

O jazigo perpétuo de mármore opaco
que acolheu aquele ataúde
pode até virar mausoléu
com pompas, elogios fúnebres,
epitáfios trabalhados
e recomendações aos céus.

Assim jaz, na cova rasa,
nada mais que sete palmos,
que agora é sua casa,
o falecido distinto
embalado por mil salmos...

Matéria, apenas matéria que vira matéria...
Ali diferença não faz
o lugar que ele ocupa
nem a riqueza que traz...
Carneiro, gaveta ou cova rasa
na sepultura onde jaz,
seja qual o seu canto,
agora seu manto:
são todos iguais!

São todos iguais
no pouso do campo santo!


*****************************************
COMENTÁRIO EM DESTAQUE; LAVRA DA POETISA ESTHER LESSA:

UM DESTEMIDO E INTRÉPIDO MERGULHO, NO MAIS FUNDO DE NOSSA MISÉRIA EXISTENCIAL! IMPRESSIONANTE O PESO DAS PALAVRAS, CADA UMA NO SEU LUGAR POSTA! ADMIRO SEMPRE E MUITO, O TALENTO DOS QUE SABEM DIZER! TERMOS E CONCEITOS, CONDIZENTES COM A SOMBRIA E TENSA TEMÁTICA! COM A PRÉ-MORTEM DIVERSIFICADA, CHEGAM OS SERES NA PÓS-MORTEM, AINDA DIVERSIFICADOS NAS PREPARAÇÕES. MAS POR MAIS TOSCOS OU MAIS SOFISTICADOS QUE SEJAM OS MECANISMOS DA ENCENAÇÃO, O INEXORÁVEL E CABAL E ABSOLUTO CAMINHO, É O DA CLASSE DEFINITIVA: O NADA! PARABÉNS, SENHOR ELIGIO MOURA! POETA DAS ESTRELAS, DAS ARÁBIAS, DOS AMORES TAMBÉM, DAS SINFONIAS SIDERAIS ,DOS PARALELOS CÓSMICOS COM AS EMOÇÕES HUMANAS, VOCÊ É AINDA, O POETA DOS TEMAS ABISSAIS ! TEM, QUERIDO POETA, A MINHA ADMIRAÇÃO MAIS LÍMPIDA E ENCANTADA! DEUS O ABENÇOE! COM A PERMISSÃO DE MEU DALMO, BEIJO-O RESPEITOSAMENTE!


**********************************************************
AGRADEÇO A GENTIL E BELA INTERAÇÃO  DO NOBRE POETA JAJA DE GUARACIABA

“Não morrerão, porém, tuas sementes!
E assim, para o Futuro, em diferentes
florestas, vales, selvas, glebas, trilhos
Na multiplicidade dos teus ramos
Pelo muito que em vida nos amamos
Depois da morte inda teremos filhos!”

. **************************************************
Muito valoriza o nosso trabalho a gentil e inteligente interação do poeta HUMBERTO  CLAUDIO:

 A CIDADE DO NADA

Todos calmos permanecem,
Nenhum tumulto se vê
Já ninguém faz mais alarde
de manhã ou pela tarde...
E à noite, ir dormir, por quê?

Já não se ouvem as vozes
De algazarra e cantoria;
As danças também cessaram,
Pois os pares se apartaram,
E dormem na terra fria.

Lá todo mundo é igual:
Não há rico ou pobre ali.
Prazer nenhum lá existe,
Nem há gente alegre ou triste,
Ninguém chora e ninguém ri.

Ninguém sabe o que é amor,
Ou sentimento qualquer,
Pois no crânio dessa gente
Não existe mais uma mente,
Para sentir ou querer.

*********************************************
Agradeço ao grande poeta JACÓ FILHO a expressiva interação que nos deixou na minha página...

CICLO EXISTENCIAL

Graças a Deus é tudo um engano,
Pois exatamente, depois da cova,
É que a alma vai experimentando,
As excelências de uma vida nova...

Preso à carne e carregando peso,
Medo da morte, a própria agonia...
O espírito renasce tal na profecia,
Em ciclos vitais, e volta ao berço.

Renascer no além faz a diferença,
Ter na consciência, solidariedade...
Sermos humildes e fazer caridade...
De nossas ações livres de crença,
Cria-se nossa sintonia e afinidade...
E em qualquer plano, a felicidade...

*************************************************
INTERAÇÃO DO POETA SOLANO BRUM

TUDO MORRE /Solano Brum

Nada havemos de levar! Nada! E por essa porta
Um dia, passaremos, sem contestação!
Ademais, se, a própria vida já está morta,
A volta ao pó, é mera conclusão!

Tudo fica para traz! Nada mais importa!
O físico, inerte, é sepultado num caixão
E por isso mesmo, ninguém mais o exorta
Ficando para que, se completa a putrefação!

E assim a vida segue! A vida, é dos vivos!
Só os vivos Clamam e Louvam a Deus,
E em Cristo jesus, sua fé pode justificar!

Depois de morto, lhes sustam os atrativos
E hão de lembrar, apenas, os feitos seus...
Mas, a ação do tempo, nada deixa perpetuar!