A chuva e o louco
Caminho pela noite chuvosa
molhado e iluminado pela luz amarela de um poste velho
o calçamento parece tão lindo e triste.
É tarde da noite, e a chuva é muito forte
Ando pelo meio da rua despreocupado
Não há carros, não há ninguém, não há nada.
As casas me olham, com suas janelinhas melancólicas
pedem socorro, o quê posso fazer?
não sou capaz de salvar a mim mesmo
Ando mais um pouco sem destino
Quero apenas conversar com a chuva
ela me entende, temos alguma coisa em comum.
Mais adiante, há um homem sentado na calçada, totalmente encharcado.
Um bêbado, um louco, ele sorri pra mim com seus dentes estragados
A chuva não lhe incomoda, por quê incomodaria?
Já perdera tudo que um ser humano poderia perder.
Paro e fito diretamente nos seus olhos amarelos injetados de bile
Ele para de sorrir, e me encara de volta curioso
Tiro um nota do bolso e lhe entrego
Ele volta a sorrir com sua boca cheia de dentes podres
Garantira dois ou três dias de embriaguez
Recomeço a caminhada
o bêbado louco com a nota de dinheiro na mão acena
parece recobrar a sanidade subitamente e me diz:
Você é um homem bom, mas daqui a pouco a chuva passa e o dia amanhece
Não se preocupe, não há salvação, e ri seu sorriso pútrido escandalosamente
Mesmo já distante, ainda posso ouvir o sorriso sarcástico e estridente.