SENTI SAUDADES...

Hoje eu senti saudade,

uma saudade doída demais,

Do tempo da minha infância,

do tempo que não volta jamais!

De um tempo sem maldade,

Quando brincávamos, criança,

Ali, na sombra dos laranjais!

Tudo tão simples, Deus do céu!

Casinha de taipa e chão batido,

Na colmeeira, abelha fazendo mel!

Cuscuz quentinho com ovos cozidos,

Vovó tranquila na cadeira preguiçosa,

Oitenta anos, todos bem vividos...

Disposta e atenta a uma boa prosa!

Olho a cidade, pacata, bem verde e bela!

Ladeira do professor Moura, ruas de chão,

Mulheres lavando roupas na gamela...

Na baixa a lagoa, a igrejinha, o pé de juá!

O vento nos pés de tucum, chuá, chuá...

E no meu peito sempre a doce emoção,

Com as lágrimas que vem do coração!

As casas antigas de adobe cru, pintadas,

A solidão do casarão do Evaristo Reis...

Grande prefeito que não teve mais igual,

As cercas de grandes estacas ali fincadas!

Nossas brincadeiras de contar só até três...

Estórias das minhas tias, de lobisomem e tal,

Que me enchiam de medo, de ir até o quintal!

A cidade não tinha nenhuma praça, tadinha...

E eu reclamando com o prefeito João Marques,

Por conta de Sônia, minha primeira namoradinha...

Namorando na rua, os meninos soltando traques!

Sem iluminação elétrica, só a luz da nossa lua...

A radiola a pilha, tocando, no salão do Zé Vaniz,

Era a tertúlia seguindo, de alma lavada e nua!

Camilo Martins

Aqui, hoje, 10.10.2020

20h00minhs [Noite]