O SAQUEADOR INVISÍVEL
Ele sempre chega pela sua abstração existencial.
Ninguém o conhece fisicamente mas a maioria já ouviu dele falar.
É um ser sorrateiro e implacável.
Intocável no seu corpo metafísico sempre presente.
Um fora da lei...dos Homens, porque é possuidor da própria lei.
É frio.
Para ele não há o sentimentalismo do perdurar.
É um ser pragmático na própria ação, nunca reflexiva em si mesmo.
Sempre se abstrai da saudade, configuração que constrói silenciosamente apenas para o outro.
É um personagem dos cenários épicos porque nada perdoa, tampouco ninguém.
Costuma levantar a bandeira da invencibilidade e dizem que sempre se sentiu hercúleo por possuir tal capacidade: a de ultrapassar a corrida de si mesmo.
Alguns acreditam ser ele um mágico feiticeiro, posto que transforma tudo em ontem, mesmo esse justo e tão permanente agora que sequer ele revela se terá o amanhã.
Outros acreditam ser ele um alquimista pela sua propriedade intrínseca de tudo triturar...e transformar em pó.
É sádico: Perfuma-se de nostalgia, uma poção de notas ácidas trancafiadas num frasco hermeticamente fechado para só se fazer sentir e degustar lá...no bem depois.
É paradoxal: passante impassível e passageiro que se disfarça de permanências pétreas embora sempre passe correndo...derretendo as passarelas e estilhaçando todas as fitas de chegada.
Relojoeiro brincalhão e zombeteiro, que ao dar cordas aos versos, se diverte em enganar os ponteiros desacertados dos carrilhões das existências.
É sopro fugaz, de inspiração tenaz à eternidade e ao inconformismo dos poetas.
Tem veio teológico ao se dilatar no quântico espaço do misterioso universo, aquele lugar onde só a poesia consegue chegar e mostrar a cara.
Em tempo:
Saqueador invisível de todos os sóis erguidos e já idos para, logo ali ao longe, no mesmo horizonte nunca tangível aos sonhos, reacender o tudo que sempre se ergue na mera ilusão dos novos tempos.