Em nome do pai e do filho

O planeta está febril, e mais uma vez aqui estou eu, fazendo o sinal da cruz para pedir-lhe ajuda. Improvisando, mas naquele velho ritual, que desde novo me foi passado. Como se fosse de regra. Como se fosse minha obrigação, ter que vir todos os dias a ter convosco. Sempre com uma súplica diferente, com um problema maior.

Gostaria, do fundo do meu coração, de apenas lhe agradecer, mas acabo sempre pedindo mais e mais. Sou ingrato na essência, pois nunca lhe devolverei a vida que me cedeste.

Perdão. Atenda a mais a esse pedido, e me perdoe se sempre fui egoísta em minhas súplicas. Mas, me perdoe, também, se em todas as alegrias desejadas eu me colocar rindo junto. Não me leve a mal. Quero ser feliz também.

Hoje, relendo meus semelhantes, sinto que sou é veneno. Sou da pior espécie que já pisou nessa terra e sei, que se aqui ficarmos por muito tempo, aqui não restará vida. Por isso lhe peço sempre, perdão. Perdão.

Não aprendi a repartir sem levar vantagem. Não aprendi a fazer o bem sem olhar a quem. Não aprendi a me colocar no lugar dos outros. Não aprendi a fazer as coisas direito, mas me perdoe se ainda não aprendi a ser mais que um simples ser humano.

Sou realmente apenas mais um humano. Fraco. Os humanos são fracos.

Mas quisera, pelo menos, não ser preguiçoso no amor ao próximo. Quisera não ser infantil nas coisas maduras da vida. Quisera me doar mais para as causas universais, mas minhas energias se esgotam no portão de casa. Minhas propostas naufragam na primeira dor. No velho e temerário egoísmo.

Minha empatia é falha, mas sou humano. Somos aceitos assim. Penso sempre em mim primeiro. Não sou de fato gigante. Sou pequeno. Sou tão ínfimo neste universo, que pode ser que minhas rezas, por solitárias, nem surtam o efeito necessário para uma mudança.

Sou vento. Às vezes brisa, mas apenas vento. Aquela força invisível, que pode cortar a água e levar a terra, mas que não move uma palha no sentido oposto ao interesse próprio.

Sei que amanhã estaremos juntos. Eu aqui, de joelhos, olhando para o nada, e o senhor lá, com sua paciência de Jó. Paciência, essa, que eu também poderia ter sido agraciado. Que também poderias ter me cedido nas inúmeras vezes que a cobicei.

Rezo todos os dias por ser impaciente. Sou homem e quero tudo para ontem, como se o tempo não tivesse seu valor.

Peço a saúde, como se fossemos estender a vida por toda eternidade. Peço a paz, como se entre os homens houvesse a justiça. Peço o amor, como se os maus não existissem. Peço a liberdade, como se ela não findasse na liberdade dos outros. Peço a riqueza, como se os pobres deixassem de existir ao meu lado.

Por que não me faz melhor? Por que me deixas errar? No fim sou assim, cortante, áspero, mortal...

Livrai-nos do mal. Amém.