Velejando
Era um luar cheio desfiando brancuras em solidões sobre os barcos ancorados no cais. Pequenas ondas se estiravam mansamente, como que reverenciando a praia. Voltavam felizes, brindando espumas. Náufragas eram as saudades quando nadavam de braçadas nas lonjuras da mente.
Os coqueirais dormiam sob a carícia das brisas andantes. Parecia poesia lamentando versos nas folhagens ressequidas que se soltavam e despencavam em meio às verdejantes. A noite parecia contar mistérios para a escuridão. Mas o escuro sempre foge levando-os consigo, quando percebe que a manhã vem exigindo claridades.
Em outro canto da margem eram rochedos que deixavam águas se quebrarem em gotas, e depois nos seus pés novamente se juntarem em canções marítimas. E as canções eram de levezas dentro dos acordes que as emoções dedilhavam quando o amor cantava.
Plenitude era o rosto dela, quando minha face na sua tocava e a gente ouvia todas as quietudes. Estrelas migravam dos céus, para as retinas dela, num olhar preenchido de encantos.
Então eu era barco e ela mar. Sem bússola, velejava no corpo dela, noite afora.