JARDINS SUSPENSOS
Por um momento foi apenas uma vaga lembrança, fragmento, suspensão de pássaro no ar, abandonando penas de água e fogo. Som de vidro - taças ou garrafas caindo? O EU, de portas abertas para o passado.
Havia um jardim. O lampejo - um jardim! O JARDIM. Pedaço de terra pavimentado separado do resto do Universo por portão baixo. Ali - uma floresta de árvores, galhos, palmeiras, araucárias em taças e cipós de serpente a explorar - ou apenas um botão de rosa em flor?
Há! Que irônico - rosas e lembranças - ambas têm dois lados - fala o velho bruxo cringe ao aprendiz de feiticeiro pop e descolado: o homem mais feliz só vê a si. Pois o que se vê nesse horto?
Quais as feras, as bestas que o habitam? Era onde voavam os gárgulas, ou as harpias? Onde dinossauros andavam com vikings? Delírios coletivos em meio à terra fofa, vasos apertados?
Ah jardins suspensos - como penso em vós! Nas pequenas delicadas flores hoje presentes em espinhos. Firo as mãos ao colher lembranças.
E as sombras se esgueiram pelos cantos da casa, gritos, ironias, pô, você é um bicho ruim! Quero cê fora daqui!
E ergueram-se muralhas sobre a terra devastada - ou um salão de cabeleireira? O princípio do fim, família em disputa, divórcios, reino caído. A pele se soltou da face do rosto, chacais devorando até os olhos e a medula, bebam tudo até o sangue, nada para os corvos!
É sempre um instante no espaço tempo. Eu vejo o jardim, a primeira lembrança da minha infância. E apenas isso, não olhem pra minha face, eu comi o fruto do conhecimento, e fui expulso do meu paraíso.